segunda-feira, 5 de abril de 2010

Silêncio e saudade

Das coisas que mais gosto na nossa relação (estranha, mútua e prazerosa) é como vc me provoca um silêncio que eu não estou habituada. O silêncio sempre me incomodou, nunca lhe fui amiga e o evitava, forçando uma oralidade (que me é difícil, pois as coisas aqui dentro nunca são transmitidas por mim do jeito como eu as imagino realmente) ou me deixando levar por pensamento intrusos e destrutivos. O silêncio em companhia de outros então é horrível, fico vasculhando brechas de quebrá-lo a todo custo senão acabo associando-o a uma personalidade tediosa e pré-concebida de alguém que simplesmente não tem a mesma inquietude emocional que eu. Meus amigos não me conhecem no silêncio e o estranham quando eu o faço. Não quero perdê-los então não lhes dou a chance de ficarem mal pela falta do meu barulho. Me forço e sôo em vários tons Me dói o silêncio compartilhado. A não ser com vc. Estou aprendendo a dividi-lo e a conhece-lo. Ele vem acompanhado de palavras subentendidas, de um vazio já preenchido por outras emoções, da não necessidade de se expor. Se eu te dou paz ao estar do teu lado, vc me dá um sossego na alma, uma quietude do não-dizer. O silêncio da tua presença é bom, é maduro, é seguro. Do teu lado eu não tenho que provar, expor, entreter, eu posso ser o que sempre fui: uma menina tranqüila, observadora e calma, com meus pensamentos calados. Eu não preciso forçar a simpatia através da fala, nem a tua conquista ou a manutenção da tua amizade.
O silêncio da tua ausência me cultiva uma saudade deliciosa. Gosto do afastamento (rápido) de vc, pois dá uma dor gostosa. Gostosa porque sinto certeza e confiança de saber que vc é meu e eu sou tua no nosso tempo (pouco) e no nosso espaço (agendado e comprado), onde quer que estejamos, com quem estivermos, independente de não nos querermos mais. Me afasto, então, ás vezes só para poder lhe sentir mais saudades, para doer, para sofrer, para me sentir viva ao experimentar algo tão intensamente sadomasoquista. Para não esgotar a convivência, para não sentir pena de uma coisa tão deliciosa acabar por banalização. Me afasto porque sei que o distanciamento é breve, que és meu. No dia que não fores mais, ainda sim eu sei que lhe pertenço, ainda assim fomos donos um do outro. Muito bom se afastar e retornar para você, como se retorna para a casa da infância. É uma forma de abastecer diariamente a saudade. De extrapolar as vontades ao máximo. De faze-la ficar insuportável para quando explodir ser plena. Para quando te ver, sentir como se fosse da primeira vez. Mesmo que em silêncio, mesmo que furando meu peito, mesmo que fantasiosa.

Não sei se algum dia o silêncio e a saudade vão ser tão horríveis que desejarei não mais senti-lo, que exigirei contato intenso, que não sentirei mais prazer neles, que não vou querer mais dividí-lo com ninguém (e você não poderá). Talvez chegue um tempo que isto me consumirá de forma cruel, que não agüentarei ficar distante de você nem um minutinho, que a tua presença será meu ar. E vai doer, como nunca doeu porque terei que optar por balões de oxigênio. Que vou ter que tirar você de mim para não poder respirar, que perderei até a vontade de continuar te amando. Que o prazer será sublimado por uma tristeza e não conseguiremos mais ficar em paz na companhia um do outro. Aí, não nos restará nada a fazer a não ser parar e deixarmos morrer um pouco. Vai doer e depois que passar vai ser bom também. Seguiremos nossa vida, seguiremos nosso trabalho, não nos veremos mais (ai como meus olhos se enchem de lágrimas e minha garganta aperta) e nunca mais nos encontraremos. Seus filhos vão crescer, meus filhos vão nascer, seremos muito felizes pela vida, viajaremos, teremos muitos companheiros, carregaremos netos no colo, seremos velhos e nunca nos esqueceremos que somos um do outro. Eu nunca vou me esquecer e mesmo chorando como estou agora eu vou te amar, te lembrar, te reconhecer por tudo que me fez sentir. Pelo amor ao silêncio e pelo prazer da tua saudade.

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