terça-feira, 20 de abril de 2010

Qualquer semelhança...

Chegou a casa e assim que abriu a porta sentiu aquele ar gelado atingir seu rosto. Pensou que o tempo tinha mudado muito radicalmente no curto período que levou para entrar no prédio, pegar o elevador e descer no seu andar. Após fechar a porta e entrar quarto adentro, a verdade foi se revelando pior do que a loucura meteorológica que imaginara: ele havia deixado o ar condicionado ligado. Ligado! O dia todo! E um sentimento de ódio misturado com cansaço inundou-lhe o peito.

Acendeu a luz, desligou o ar e olhou para seu quarto. A cama parecia ter sido atingida por um tornado. Chegou a ver as marcas da pata da vaca em cima da fronha. Tentou alcançar o armário para trocar de roupa e teve que pular pilhas de papéis de dama, plásticos empoeirados, roupas desavergonhadas, lençóis esquizofrênicos e caixas empilhadas. Após calmamente e de forma controlada chutar tudo com o bico do pé em direção à sala, chegou a cozinha. Lá se deparou com aquela montanha do Contatos Imediatos formada por pratos fazendo tan-tan-taaann-tannnnnnn. Seu peito deu uma pontada. Abriu então, a geladeira xingando baixinho ele. Mas o golpe certeiro desferido foi quando constatou que o feijão (seu feijão, feito com amor, carinho e temperos) tinha acabado Foi aí que a raiva coloriu sua face de vermelho escuro Bordeaux e ela ficou enfurecida.

Pensou em ligar para ele, dizer-lhe para nunca mais (ouviu, nunca mais!) falar com ela, ou aparecer na vida dela e mudar de rua caso encontrasse com ela sem querer algum dia. Pensou em escrever-lhe uma carta séria, explicando que já era hora dele começar a agir com responsabilidade e zelo, nem que fosse com as coisas dela. Que ela esperava ao menos que ele pensasse um pouco no cansaço dela ao chegar em casa, depois de um dia inteiro de trabalho, tendo dormido apenas 2 horas. Não fez nada disso! Resolveu mesmo escrever um conto!

Nenhum comentário: