segunda-feira, 5 de abril de 2010

Água morro abaixo

Meu amigo,

Tento organizar tudo na minha cabeça, mas é um rebuliço que nem sei por onde começar. Nos enrolamos que nem cordão de ouro fininho com vários nós. Em junho de 2 anos passados, ouvi de sua boca: você vai ter orgulho de mim em breve! Eu acreditei (acredito ainda no fundo senão não tava te escrevendo) e fiquei esperando por qualquer movimento teu que me mostrasse que você estava sentindo que precisava se encaminhar para o outro lado de tudo que você trilhou até entao. Mas o que aconteceu foi o oposto.

Montanha russa em alta velocidade só que no final com trilhos acabando e um precipício esperando. Ficamos mais próximos sim. Nos apoiando e tentando matar a solidão com o outro. Só que eu sentia que era pouco para você. Em qualquer oportunidade de poder voltar a ser aquela pessoa que você se criou (e totalmente sem rumo), você não resistia e agia novamente daquela forma que tanto você me disse não faria mais.

As coisas ainda se enrolaram mais e mais, empregos, demissões, depressão, altos, baixos, químicas, sexo, inércia, hibernações e companhias erradas.

Antigamente, antes das coisas complicarem (e eu nem sei precisar quando isso começou a ocorrer), conversávamos tanto, sobre tudo, com humor, consideração e até carinho. Não éramos só amigos de doideira, de bar. Éramos amigos. Ponto final! E eu te amo tanto pela nossa amizade conquistada em conversas, em risos, mancadas, danças desconexas, ligações malucas, cigarros roubados, cafés, choro, portas de aeroportos, textos e sinucas.

Agora você me irrita, faz de tudo para isso. Ou não faz nada, apenas dorme! Não conversamos mais, a não ser na presença de outros, com papos coletivos, alcoólicos e esfumaçados. Eu não te entendo e você não me entende. Eu perco a paciência, você vem com deboche (parece algum ritmo novo de musica do nordeste, né?). E sempre tem que ser até a última dose, último cigarro, até os olhos não se agüentarem mais abertos, as pernas formigarem, o coracao ficar com taquicardia, a fraqueza tomar conta dos membros e o suor inundar.

E sua falta de vontade de vivenciar as coisas. Você podia fazer tanto, conhecer, participar, produzir, se admirar com tantas coisas e não faz nada. Só o que lhe interessa é a futilidade de um momento intenso prazeroso vazio. Um preenchimento do teu vazio com o nada. Cada vez mais se enchendo de nada.

As pessoas estão se afastando. E você delas. Nem interesse por ninguém você tem mais. A não ser aquelas que te fazem mal. Eu temo que a próxima a se afastar serei eu. Não posso mais, nem quero, te acompanhar nesta viagem para o vazio. É errado e auto-destrutivo. E se você não fizer nada logo, talvez seja tarde demais. Ainda há tempo, mas só você que pode fazer isso, eu não posso.

Isso é que nem dieta: tem o certo e o errado. Todo mundo sabe diferenciar. Muda, seja o homem que eu espero que você seja. Deixe-me orgulhosa!

Até algum dia,

Sua amiga

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