quarta-feira, 23 de abril de 2008

Carta para um amigo viajante!

Viagem só é bom quando é a gente que vai. Quando é nosso melhor amigo, é ruim! Quando é por muito tempo, dói demais! Mas entendemos, pois dos amores que temos ao longo da vida, o menos egoísta é o da amizade. Já vivi esta perda no feminino e no masculino. Acabei transformando em algo bom: desculpas para aquietar minha comichão de querer seguir mundo afora visitando-os. Antes, no momento que o cérebro percebe o corte no coração, e a boca quer falar uma enciclopédia ainda consegui dizer para um deles:
“Agora eu sei! Mas só me lembrei depois, quando te vi pela primeira vez. Todos virando o rosto, sorrindo, enquanto você entrava pelo recinto. De cabelos ainda longos, encaracolados, renascentistas, confiante, brilhante, etéreo, familiar. Sentou do meu lado. Cumprimentou a todos, ainda rindo de volta para piadas ofertadas pelos que lhe conheciam. E falou comigo! Olhei para aquele verde! Sorri de volta! E... Lembrei de tudo. Como poderia esquecer a tua voz, os teus olhos e todas as vezes que nos encontramos antes de nos conhecermos novamente.

Acordei para todas as nossas lembranças, para as situações, os momentos, os sentimentos que passamos e ficaram guardados, sem resgate, num passado que não consigo identificar. Piadas que fizemos e rimos inúmeras vezes... Algumas sem graça nenhuma! Dores divididas, angústias expostas, segredos confiados.
Recordei de todos os personagens que fomos um para o outro. Um amigo, alegre, companheiro e irresistível, sempre pedindo mais uma cerveja, dividindo maços, conversando eternamente enquanto a madrugada deixasse, ouvindo sem julgar. Meu colega de turma, adiando trabalhos, fazendo provas juntos (finais até!), unidos em grupo, conversando com professores, participando de chopadas, fumando num hall amarelo velho. Um pai, tomando conta de mim em festas, bebedeiras, me apoiando (literalmente) após tombos e me ajudando nos machucados. Irmão mais velho, dando conselhos, fornecendo cuidados, carinhos e esperando em filas de banheiros femininos. Meu amante, de admiração estética, de preocupação com minha chegada em casa, de tesões compreensíveis, explicáveis, químicos e inexeqüíveis.

É deste jeito que eu sempre me senti contigo: como se nós já tivéssemos passado por tanta coisa juntos e por algum motivo nos afastamos, dormimos, sonhamos, esquecemos, acordamos e nos reencontramos. Com toda a intimidade, amizade, união e companheirismo intactos, dispostos a novas aventuras juntos. E desta vez, ter você ao meu lado, me acompanhando, me trouxe tanta alegria e felicidade no nosso pouco tempo que não há verbalização possível dentro de mim para te elogiar, ou te dizer o quanto te amo.

Além de tudo dito, mais lá para cima (que você manteve dos nossos outros encontros), foi também recente, conquistado, legitimado, marcante e curto. Você vai para longe e a geografia me obriga a não te ter mais tão cotidiano. Vou me quebrar por dentro de tantas saudades tuas, pois queria que fosse mais longo desta vez, queria ter mais chance de nos convivermos. Mas é inevitável e necessário a tua ida! Então, meu querido, meu lindo, vai e seja tudo o que você me fez recordar que você é! Tenho certeza que vai ser bom, que você vai ser muito feliz e bem sucedido na sua vida estrangeira. Logo, logo vai se sentir em casa lá, conhecerá coisas novas, viverá tudo intensamente e terás inúmeros novos amigos.

E quando você voltar saiba que estarei aqui, sempre, te aguardando para mais um período juntos. Só que desta vez, não terei te esquecido. Prometo!”

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